quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Onde Estão Os Mascarados?

Eu sou um grande fã de quadrinhos. Especialmente os que tratam de super-heróis. Cresci lendo-os, grande parte do meu conceito moral, adquiri desses seres fantásticos que faziam tudo pelo bem. Eles salvavam o mundo e o mundo não sabia de suas identidades secretas. Era algo como “não se preocupem, meus problemas não são maiores que os problemas do mundo. Com o tempo, e com mais conhecimento, esse mito foi caindo e hoje é mais difícil ler algum quadrinho atual, que tenha a premissa moral, sem questionar. Ao buscar coisas diferentes dentro desse universo, achei autores como Alan Moore e Frank Miller. Estes dois são responsáveis por desmistificarem o conceito de “super-herói”. Numa primeira leitura de suas obras, tem-se a impressão de que tomaram o caminho inverso: “os nossos problemas podem ser maiores que os problemas do mundo”, mas é muito mais que isso. Mais do que nunca, provaram que os problemas dos indivíduos, são os problemas do mundo. Uma ex-namorada viciada em heroína, podia transformar a vida de um super-herói num inferno, por mais que ele mesmo se vista de demônio. A iminente destruição do mundo, pode abalar até mesmo a mente mais moralista do mundo. Temas que, até então, eram tabus, trouxeram uma nova leitura para os apaixonados pela arte sequencial. Mas por outro lado, apesar de histórias muito bem colocadas, roteirizadas e desenhadas, houve um revés. Todos esses heróis foram “desmascarados”. Vimos um Superman descontrolado ao saber que viveu uma ilusão, um Batman muito mais amargurado e imoral, um Demolidor à beira da loucura. Nós vimos um deus indiferente aos pequenos humanos.

E, pior, nós vimos todos jogados num quarto iluminado, de frente com os demônios. Alguns se entregaram aos demônios, outros lutaram bravamente, porém, poucos sobreviveram. E não é isso que acontece com muitos (será exagero dizer todos?) de nós? Aprendemos a ser corretos, a praticarmos as leis, respeitar uns aos outros, a vestirmos uma camiseta com um S estampado no peito. Porém, ao sairmos para praticar o que aprendemos, encontramos nossos mestres como algozes. É como quando Harry Osborn descobre que seu pai, Norman, era o Duende Verde. Ele não sente raiva, pelo contrário, segue os passos do pai. O que me parece natural. Daí pra frente, provavelmente os editores das indústrias de quadrinhos pensaram “e agora? o que vamos fazer?”. Na verdade, já não havia muito o que fazer, então tivemos os famigerados anos 90, a era obscura dos quadrinhos, por mais colorida que fosse. Histórias ruins, jogadas goela abaixo. Tramas sem sentido que subestimavam a capacidade mental dos leitores. Conseguem fazer um paralelo entre os salvadores do mundo desmascarados, com o a nossa realidade? Eu consigo perfeitamente. Por essas e outras, que amo os quadrinhos. Uma arte que consegue ser autêntica, mas com um pé no pop. Tipo, David Bowie, sabe? Enfim, deixe-me explicar como enxergo esse paralelo do universo dos quadrinhos com a realidade que nos é dada hoje.

Todos sabemos que mediante nossos abusos em relação aos recursos naturais, a Terra pode acabar mais rápido que o esperado. Pois, todo mundo sabe que o planeta ia morrer um dia,

certo? Se você não sabia, bom, desculpa estragar, mas é verdade. Mas nós estamos acelerando esse processo, não só por nosso consumo exagerado, mas também pelo fato de que não mudamos nossa forma de pensar, de querer algo diferente, de cortar o mal pela raíz. É um processo um pouco delicado e longo, mas que não temos feito e/ou praticado ultimamente. Alguém não gostou disso e começou a reclamar, fazendo um certo, digamos, “barulho”. Você sabe de quem estou falando. Nós cutucamos a onça com vara curta, mas para nossa sorte, ela só está rosnando. Por enquanto. Porém, o rosnado foi alto suficiente para que alguns prestassem atenção e começarem a nos avisar. Cada um da sua forma. Uns de forma profética, outros como um aviso para a mudança. Tem gente que não acordou mesmo e muitos deles são levados por quem gritar mais. Os proféticos, acham que é o fim mesmo, daquele escrito milhares de anos atrás e muitos deles, parecem esperar por esse fim, ao invés de tomarem atitudes para mudar o paradigma. Existe ainda, uma terceira classe. Os oportunistas. Eles enxergam esse aviso do planeta, como um meio de atingirem os seus objetivos. Alguns, com objetivos nobres, com certeza. Mas muitos, não tão nobres assim. Com essa oportunidade, acredito que temos um novo ramo de mercado global. Um novo jeito de ganhar dinheiro e crescer assim o capital empresarial. Você com certeza já ouviu falar de sustentabilidade. Claro que já. Você já ouviu falar de eco-qualquer-coisa. São termos do momento. E aí que se encontra o mercado atual. O mercado de salvação do planeta. Repare que nos últimos anos, muitas marcas surgiram com um conceito benigno. Passam uma imagem de serem boas para o planeta. Convenhamos, que muitas delas o fazem de maneira ofensiva, pois muitos sabem que elas fazem justamente o contrário, sendo malignas para toda a sociedade. Muitas marcas, estão estampadas em eventos que promovem conceitos ecológicos e/ou sustentáveis. Com seus patrocínios servindo justamente, de propaganda. São os heróis desmascarados. Estão em todos os lugares, sorrindo, mostrando todo o bem que fazem para o planeta. E aqui que eu coloco o título do texto: “Onde estão os mascarados?”. Parece que há uma luta para ver quem salvará o planeta e ficará com toda a fama. O planeta não é de todos? Não deveríamos salva-lo, independentemente de nossas crenças, ideologias e preferências? Tudo bem, todos temos necessidades a cumprir, temos nossos problemas. Pois, acho que devemos voltar até a era de ouro dos quadrinhos. Quando os heróis salvavam o mundo e ninguém sabia quem eles eram realmente. Desculpem empresas, vocês podem pensar em boas intenções ao patrocinarem eventos, colocarem suas marcas como pró-sustentabilidade, mas eu acredito que ao estamparem suas caras, vocês mostram quem realmente são: empresas. E empresas, todos sabem, visam em primeiro lugar o lucro. Se alguém tem algum argumento contra, favor me indique, eu gostaria mesmo de ouvir que não é assim, porém, ainda não achei tal ponto.

O que quero dizer, nos finais, é que acredito na anonimidade dos super-heróis. Se eu estivesse na Guerra Civil (a saga da Marvel, não a de verdade) eu tomaria fácil o lado do Capitão América, pela não aprovação da Lei de Registro de Super-Humanos. E não pelo princípio de que isso traria ameaça aos próximos do mascarado. Partindo da linha que aqueles que desmistificaram os super-humanos, acredito que o problema de um, é o problema de todos. E aquele que coloca a máscara, nos mostra que ele está lutando por nossos problemas e não para resolver os seus.

Claro que começamos a nos mover a partir de um problema nosso, mas novamente, será nosso mesmo? Será que suas contas a pagar, se tornaram o problema apenas porque naquele mês você gastou mais? Será que realmente, nossos problemas são únicos (os problemas e não suas medidas, que fique bem claro). Não seria válido que ao lutar por nossos problemas, poderemos vestir uma máscara, mas que ao ficarmos cansados, passamos a máscara para o próximo, enquanto voltamos para sermos nós mesmos e no dia seguinte, vestir a máscara novamente?

Eis minha proposta, empresas que querem salvar o mundo e pessoas ordinárias. Há uma questão importante levantada no filme Superman Returns, onde Lois Lane (eterno par romântico do escoteiro), escreve um artigo no final do filme “Porque o mundo precisa do Superman”. Eu concordo, mas proponho algo mais além e de maior massa. Acho que o mundo precisa de Supermen. No plural. Sejam super-heróis de verdade. Tirem a máscara mal-feita, composta de ouro e diamante de suas caras e coloquem uma que seja acessível para todos nós, para que, ao menos, em nossas lutas sejamos iguais e companheiros. Avante, Salvadores!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Topo 4+1 - Piores substitutos das HQ's

Primeiro Topo no Q de Quadrinhos. Esse vai em "homenagem" para os piores substitutos de heróis de quadrinhos. Muitos surgindo nos anos 90, a época desesperada dos gibis. Achei que estava tendo uma idéia original, mas foi mais inspirada em um Podcast do Melhores do Mundo. My bad.

4 - John Henry Irons (Superman)


John Irons é herói de segundo escalão da DC, como Aço (que teve filme homônimo de 1997 com Shaquille O'Neal no papel principal) e "substituiu" Clark Kent, depois da fracassada e famigerada "Morte do Superman". Na verdade, ele diz que não queria substituir o escoteiro alienígena, mas carregar o espírito que ele representava. Tudo bem, tudo lindo, mas se não era pra substituir, pra que usar o S no peito? É como se a Coca-Cola "morresse" e a Pepsi muda a embalagem pra vermelho e usasse as garrafas com o formato patentiado da Coca. Tava de olho era na carreira de primeiro escalão na DC, isso sim. E tá, vai dizer que o S dele é de "Steel"? Por não ser substituto, mas um oportunista, fica com a quarta posição.

3 - John Walker (Capitão América)


John (de novo) foi um cara que perdeu o irmão no Vietnã e queria honrar seu irmão, indo pro exército. Ele recebeu uma dispensa "honrosa" do exército (incompetência?) e aí escutou que um cara podia lhe dar poderes. Agora todo poder, ele deu a louca de peitar o Capitão América como o Super-Patriota. Só de tentar peitar o lendário, ele já não bate bem.
Logo depois, O C.A original, teve de abandonar o manto, a pedido do próprio governo norte-americano. Tudo não passava de um plano do Caveira Vermelha, o algoz máximo do Capitão, que ainda queria difamar a imagem do bandeira perante a sociedade americana. Para isso, ele chamou, adivinhem quem? Sim, o nóia do John Walker, achando que estaria salvando sua nação. Mas ele só fez cagada e lá foi o Steve Rogers consertar de novo.
No fim, John assumiu que ele não era feito para ser "estrela" e ficou como personagem secundário vestindo o manto do Agente Americano. Fica com a terceira posição por conseguir ser mais patriota (chato) que o Steve Rogers.

2 - Kyle Rayner (Lanterna Verde)


Kyle era um desenhista. Pronto, até então era a única coisa que sabíamos desse cara. Ganhou o anel verde que era de Hal Jordan sem muita explicação. Estava na hora errada, no lugar errado. Errado, porque Kyle foi um personagem cheio de idas e vindas depois que ingressou no universo DC. Sua personalidade parece que não existia, formando-a apenas depois de viajar pelas galáxias. Sendo assim, seu personagem não tem muita credibilidade. Em momentos, tentaram fazer de Kyle, um novo Hal Jordan (talvez os editores se arrependeram de ter matado o Lanterna Verde ícone). Por ser um "mal-caráter", fica com a segunda posição.

1 - Azrael (Batman)



Esse é um sujeito que recebeu críticas até morrer. E até reviver.
Jean-Paul Valley era um estudante nerd, mas na verdade, o último na linhagem de uma organização assassina "Ordem de São Dumas". Ele foi treinado pra ser um assassino de primeira, mas trombou com o Batman, se ajudaram e então ficaram aliados. A personalidade de Azrael não é o problema. Nem o seu jeitão de personagem dos 90's (isso, todo mundo tava na onda). O que pegou mesmo, foi quando Bruce Wayne, com a coluna destroçada, escolheu ele, para ser Batman. Um Batman cheio de traquinagens tecnológicas e armadura duvidosa. É o bastante para ele ficar na posição 1. Quase levou um ícone pro ralo. Quase, porque quem levou a franquia Batman pro lixo, foi Joel Schumacher e o seu Batman & Robin.

+1 - Ben Reilly (Homem-Aranha)


Ok. Esse é complicado. Tentem me acompanhar.
Ben Reilly surgiu como Aranha Escarlate. Um novo Homem-Aranha para os anos 90. Sim, ele é filho dessa linhagem. Tudo bem, até então. Ele era tipo, um Azrael. E, como o mesmo, chegou o dia em que assumiu o manto de Peter Parker. Certo, tudo igualzinho ao morcego. Não poderia ser pior, poderia? Sim. E foi. A Marvel deve ter achado isso mesmo. Que estava igual ao Azrael e tudo mais, que eles tinham que diferenciar do concorrente. Alguém teve, então, uma luz. Que parecia ser mais uma sombra. No meio da confusão da Saga do Clone, resolveram confundir tudo de uma vez. Em algum ponto da saga, foi dito que na verdade, Ben Reilly era o verdadeiro Homem-Aranha e que Peter Parker era o clone. Sim! Quem havia acompanhado os 30 anos de Aranha até aquele ponto, não estava acompanhando a verdadeira história, mas sim, a história de um clone. 30 anos! A Marvel, enfim, ganhou como a maior cagada já feita em HQ's. Os editores sorriram uns para os outros e disseram enfim: "Conseguimos." Depois, eles deram qualquer jeito para dizer que era tudo mentira, pegadinha. Que Peter era, de fato, o verdadeiro Homem-Aranha. E como qualquer bom funcionário temporário, Ben foi morto depois de servir o seu propósito. Por mais que eu tenha começado a acompanhar Homem-Aranha nessa fase, tenho que admitir: Ben Reilly é, definitivamente, o pior substituto de Heróis de Quadrinhos.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Resenha - Desista! E Outras Histórias de Franz Kafka

Começar as resenhas deste blog com algo tão inusitado é um risco, mas vamos lá.

Desista! é uma HQ que tem como base de roteiro, pequenos contos de escritor Franz Kafka (Metamorfose). Os desenhos ficam por conta de Peter Kuper (Spy vs. Spy, World War 3 ambos sem lançamento na terra do vôlei, digo, futebol). Foi lançado pela Conrad em 2008 (a obra teve foi realizada em 95) e apenas chamou-me atenção por ter relação com Franz Kafka e HQ.

Não sou conhecedor de ambos os traços de Peter Kuper e a narrativa de Franz Kafka. Mas já digo que a pequena obra (70 páginas), vale a pena. As histórias de Kafka, são perfeitamente não datadas, tanto que na época em que seus contos (todos póstumos) foram publicados, o tcheco foi várias vezes tachado de alienado. O HQ contém 9 histórias retiradas de compilações e com textos integrais. Destaque para as histórias
Desista!, O Abutre, A Ponte e O Timoneiro. Para quem não está acostumado com leituras mais intrincadas, pode se confundir com os textos de Kafka, tendo em vista que a própria tradução dos textos, é algo de longa discussão entre os especialistas em leitura kafkiana.

O traço de Kuper é incrivelmente envolvente. Nota-se uma mistura de abstração com toques comuns de padrões de quadrinhos. Kuper consegue utilizar do próprio ambiente de um "enquadramento" para dar justaposição à uma página, o que faz a leitura fluir sem problemas. Aliás, a justaposição da obra, são os pontos fortes. Kuper pareceu não deixar os famosos quadros se adaptarem aos desenhos, mas fez o caminho contrário. O enquadramento parece ser obrigado a moldar-se com o traço. Seu traço quase chargista, flerta tranquilamente com o surrealismo, também implícito na escrita de Kafka.

Sobre o trato da Conrad com a obra, há pontos positivos e negativos. É quase um formatinho, mas com material consistente. No final, tem-se uma página inteira com referência das obras de Kafka e seus títulos originais, o que raramente acontece de forma clara em muitas publicações.

Desista! é um prato cheio para quem gosta de experimentalismo em quadrinhos, pois foge do lugar comum e dá um nova referência para outras leituras de HQ's.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Em Breve!

Salve galera! Em breve estarei postando notícias sobre quadrinhos e tudo que envolve esse universo maravilhoso. As adaptações, alguns reviews, algumas curiosidades.

Aguardem!